O Brasil integra a nova organização latino-americana concebida por Chávez com uma “cláusula democrática” absurda: admite a ditadura de Cuba
Reunião plenária da CELAC: não é melhor concentrar forças no Mercosul?
Não sei, não, amigos do blog, o que será e porque passou a existir de
fato essa tal CELAC, ou Comunidade de Estados Latino-Americanos e
Caribenhos, integrada por 33 países. Começo pelo fato de constatar o
entusiasmo do ditador da Venezuela, Hugo Chávez – anfitrião da reunião
que selou as bases da organização, em Caracas, e seu principal
idealizador – pela ideia. Mau sinal.
De cara, excluiu os Estados Unidos e o Canadá – até aí tudo bem, se é para “integrar” os países latino-americanos.
E, se existe a CELAC, para que a UNASUR (União de Nações Sul-Americanas), uma das joias da política externa do lulalato?
Como ficarão, com a CELAC, organizações sub-regionais, como o ex-Pacto Andino, atual Comunidade Andina de Nações?
O que será, além do mais, da OEA
(Organização dos Estados Americanos), a espécie de mini-ONU regional
que, por falta de “vontade política” dos membros, tem eficácia pouca ou
nenhuma?
Por que não concentrar energias no fragilizado Mercosul?
A presidente Dilma esteve em Caracas para prestigiar o evento.
Pergunto: não é melhor concentrar forças no Mercosul,
em que os interesses brasileiros são mais imediatos, uma vez que a
organização é integrada pelos vizinhos mais próximos geografica e
comercialmente do Brasil, incluindo, naturalmente, a estrategicamente
vital Argentina, parceiro comercial gigante do Brasil?
O Mercosul está virtualmente caindo aos pedaços, depois de anos de
tentativas frustradas de assinar um tratado de livre comércio com a
União Europeia, e o Brasil perde tempo e espaço enquanto dezenas de
países latino-americanos, europeus e os Estados Unidos assinam entre si,
bilateralmente, acordos do gênero, inclusive com a China.
Uma “cláusula democrática” que abriga Cuba!
Rafael Correa, do Equador, colega de demagogia e tendências autoritárias de Hugo Chávez.
Não me parece bom começo que a CELAC tenha abrigado um discurso
interminável, de mais de uma hora de perorações do ditador Hugo Chávez
contra o “imperialismo”, nem que seu colega de demagogia e tendências
autoritárias, Rafael Correa, do Equador, tivesse tentado, além de
investir contra a “imprensa burguesa”, uma manobra visando que a CELAC
substituísse, para seus integrantes, a OEA, que para ele carrega o crime
inafiançável de ter sede em Washington.
Pior: a “cláusula democrática” da CELAC – ou seja, tal como existe na
OEA e no Mercosul, a exigência de que só países democráticos e
alinhados com o Estado de Direito participem – é de uma enorme
frouxidão. Só estabelece a suspensão de um país-membro quando ocorra um
golpe de Estado. Não exige que, nos países-membros, exista separação
entre os Poderes do Estado, nem o pluralismo partidário e – vejam bem –
nem que existam eleições periódicas para a escolha de representantes e
governantes.
Que raio de “cláusula democrática” é essa, que permite abrigar na CELAC a ditadura de Cuba?
O que tranquiliza um pouco este começo para valer da CELAC, até então entidade em formação, é o fato de que seu primeiro presidente escolhido foi o presidente do Chile, Sebastián Piñera, um liberal sobre cujas convicções democráticas não pairam dúvidas.
Sebastián Piñera: um suspiro na CELAC de Hugo Chávez
Em seu discurso de posse, Piñera, muito aplaudido, disse: “Essas
dicotomias entre esquerda e direita são parte do passado. Há esquerda e
direita sobrando em nosso continente, mas o que falta é mais decisão
para enfrentar nossos problemas”.
Por sua vez, o chanceler chileno Alfredo Moreno assegurou que “o foro da CELAC não pretende substituir a OEA”.
Mas Chávez não sossega: ele já propôs e insistiu em que a próxima cúpula da CELAC seja realizada em Cuba.
Até amanhã.
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