Gustavo Ribeiro
Falsários criaram Lista de Furnas para blindar Lula
Em conversa gravada pela Polícia Federal, estelionatário diz que a lista era a salvação do presidente no escândalo do mensalão.
Nilton Monteiro-Falsário Lula o mentiroso
Entre os meses de março e maio de 2006, o nível de turbulência política em Brasília atingiu o seu ponto mais crítico desde o impeachment do presidente Fernando Collor, em setembro de 1992. A Comissão Parlamentar de Inquérito que investigava o mensalão havia desbaratado a quadrilha de petistas que atuava no coração do governo, desviando dinheiro público para subornar políticos e financiar as campanhas do partido. A crise ameaçava o mandato do então presidente Lula. Era preciso fazer algo e, conforme demonstrou uma reportagem de VEJA da semana passada, o PT contratou e pagou um estelionatário para fabricar a chamada Lista de Furnas — um documento falso que tentava envolver políticos da oposição com caixa dois eleitoral. Uma estratégia para nivelar por baixo a classe política e minimizar a gravidade do esquema de pagamento de propina montado pelo partido. A Lista de Furnas, descobre-se agora, tinha um objetivo bem mais ambicioso do que apenas confundir os incautos: ela foi produzida pelos petistas para tentar salvar o presidente Lula.
A confissão está registrada em um relatório da Polícia Federal anexado
ao processo que corre em segredo de Justiça na 2ª Vara Criminal Federal,
do Rio de Janeiro. VEJA teve acesso ao conteúdo do documento. Durante o
escândalo do mensalão, a PF monitorou por vários meses conversas
telefônicas entre o estelionatário Nilton Monteiro, o autor da Lista de
Furnas, e seus comparsas — deputados e assessores do PT. Os diálogos
mostram o grupo combinando os detalhes da farsa (“Nós vamos acabar com
eles tudinho”), colhendo as assinaturas que dariam “credibilidade” à
trama (“Eu já estou aqui com o José Carlos Aleluia”) e negociando
pagamento de honorários, ora em dinheiro, ora em negócios com empresas
estatais ligadas ao governo federal (“São aqueles negócios que eu pedi
da Caixa e do Banco do Brasil para liberar pra mim...”). Na página 29 do
relatório, os investigadores transcrevem o motivo do crime nas palavras
do próprio criminoso: “O documento é a salvação de Lula”.
Em uma confidência à sua mulher, captada pelos policiais, Nilton Monteiro diz que mostrou uma cópia da Lista de Furnas aos petistas, e “o pessoal ficou doido”. O documento, nas palavras do falsário, era uma tábua de salvação para o presidente e os petistas envolvidos no mensalão. Ciente do trunfo que tinha em mãos, ele ainda comenta, como estelionatário profissional que é, que havia chegado a hora de acertar seu pagamento. As investigações policiais pararam aí, mas o que aconteceu depois é de conhecimento público. Nilton Monteiro apresentou a falsificação ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal, deu entrevistas, prestou depoimentos e desapareceu. Hoje, o falsário está preso em Belo Horizonte por achacar advogados e políticos, sempre usando documentos forjados. Ele responde a 55 processos, a maioria por estelionato. Desde outubro, data de sua prisão, ele teve três pedidos de liberdade negados pela Justiça.
Na semana passada, após as revelações de VEJA, o DEM e o PSDB entraram
com um pedido de investigação do caso junto à Procuradoria-Geral da
República. “Episódios como esse mostram que o PT insiste em usar a
truculência — e afronta a democracia”, afirmou o líder do DEM no Senado,
José Agripino Maia. Os financiadores também podem ser obrigados a
responder pela trama. A oposição pediu que a Assembleia Legislativa
mineira abra um processo de apuração por quebra de decoro parlamentar
contra o petista Rogério Correia, que aparece nas gravações ajudando — e
remunerando — o estelionatário Nilton Monteiro. Se politicamente os
parlamentares envolvidos podem se enrolar, na esfera criminal existem
previsões sombrias de que, assim como no mensalão (veja a reportagem na
pág. 74), tudo termine em impunidade. A única investigação oficial que
corre sobre o caso ainda não chegou a nenhuma conclusão, apesar de
aberta há longos cinco anos, inclusive com um laudo confirmando a
montagem dos documentos. E, pior, a Lista de Furnas nem é considerada um
ponto nevrálgico do processo. “O foco é nas licitações de Furnas. A
lista é apenas uma parte do cue diz a procuradora da República Andrea Bayão. O plano petista ainda pode dar certo.
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